CAPÍTULO 2
RETIFICADORES A DIODO

2.1 - Retificador Monofásico de Meia Onda a Diodo

 

a) Carga Resistiva Pura

        A estrutura do retificador monofásico de meia onda (a diodo) alimentando uma carga resistiva é apresentada na figura 2.1.


Fig. 2.1 - Retificador monofásico de meia onda com carga resistiva.

        O diodo encontra-se bloqueado (não conduz) durante o semi-ciclo negativo da tensão alternada de alimentação v(wt). Desse modo, somente os semi-ciclos positivos são aplicados à resistência de carga R.
         As formas de onda relativas à estrutura em questão estão representadas na figura 2.2.


Fig. 2.2 - Formas de onda relativas à figura 2.1.



        A tensão de alimentação é representada pela expressão (2.1).

(2.1)

        A tensão média na carga é calculada pela expressão (2.2).

(2.2)

        Assim:

(2.3)

        A corrente média na carga é obtida pela expressão (2.4).

(2.4)

Assim:
(2.5)
          A corrente de pico no diodo, igual à corrente de pico na carga, é dada pela expressão (2.6).

(2.6)

        A tensão de pico inversa no diodo é dada pela expressão (2.7).

(2.7)

        A corrente eficaz na carga é igual à corrente eficaz no diodo, dada pela expressão (2.8).

(2.8)

        Aproximadamente, obtém-se que :
(2.9)

b) Carga R-L

    A estrutura do retificador monofásico de meia onda alimentando uma carga R-L está representada na figura 2.3.


Fig. 2.3 - Retificador monofásico de meia onda alimentando carga R-L.


        As forma de onda relativas à carga R-L estão representadas na figura 2.4.
 


 Fig. 2.4 - Formas de onda relativas à figura 2.3.


       Devido a presença da indutância, o diodo não se bloqueia quando wt=p. O bloqueio ocorre no ângulo b (ângulo de extinção), que é superior a p.  Enquanto a corrente de carga não se anula, o diodo se mantém em condução e a tensão de carga, para ângulos superiores a p, torna-se instantaneamente negativa.
        A corrente de carga é obtida pela solução da equação diferencial (2.10).
 

(2.10)


        A solução da equação diferencial (2.10) é representada pela expressão (2.11).

(2.11)

Onde :
 

        A corrente da carga é composta de duas componentes distintas, representadas pelas expressões (2.12) e (2.13).

(2.12)
 

(2.13)


        As duas componentes estão representadas graficamente na figura 2.5.
 


Fig. 2.5 - Forma de onda para a corrente de carga relativa à figura 2.3 - durante meio ciclo.


        Para wt=0, temos iL(w t) = 0. Assim:

(2.14)

         Portanto,

(2.15)


        A componente  i2(w t ) representa a parcela transitória da corrente, a componente  i1(w t)   representa a resposta em regime permanente para carga R-L submetida à tensão alternada da rede.

       Para que se possa estabelecer o valor médio da tensão na carga, é necessário que se conheça o ângulo b. De acordo com a figura 2.5, i(w t )=0, quando w t =b.

      Levando -se estes valores na expressão (2.15), obtém-se a expressão (2.16).
 

(2.16)

Onde :
       

       Então,

sen(b-f)+sen(f)e-b/tgf (2.17)

       Esta solução implícita, ao ser resolvida numéricamente, resulta na curva apresentada na figura 2.6.


Fig. 2.6 - Ângulo de extinção b em função do ângulo f , para a figura 2.3.

           Uma vez conhecido o ângulo de extinção b, pode-se determinar o valor médio da tensão na carga.
    O procedimento está descrito a seguir:

(2.18)

             Assim,
(2.19)


            De acordo com a expressão (2.19), a presença da indutância causa uma redução na tensão média na carga.

           A seguir é descrito o procedimento para se estabelecer o valor médio da tensão no indutor.

          Na figura 2.7 estão representadas a tensão na carga, a corrente de carga, a tensão no resistor
VR (w t ) e a tensão no indutor Vl (w t ).
 


Fig. 2.7 - Formas de onda para o circuito da figura 2.3.


        De acordo com a figura 2.7, quando i(w t ) alcança o seu valor máximo, tem-se :

di(w t )/dt=0 .

       Desta forma, nesse instante, quando w t =qm, tem-se: Vl (w t) =0  e VR (w t )=v. A tensão média no indutor é calculada do seguinte modo:

(2.20)

    Onde:

Vl ( t).dt =L.di  (2.21)
    Assim:
(2.22)
     Logo,
     Vlmed  = 0
      Conclui-se portanto que o valor médio da tensão na indutância é nulo.  Este fato indica também que  S1 = S2 . Sendo que S1 e  S representam o fluxo produzido no indutor. Desse modo, o valor médio nulo da tensão indica que o indutor é magnetizado e desmagnetizado a cada ciclo de funcionamento da estrutura.

        A seguir, é descrito o  procedimento que estabelece o valor da tensão média na resistência de carga R.

VLmed  =Vlmed+VRmed   (2.23)

        Como :

Vlmed = 0
        Tem-se que:
 VLmed  =VRmed   (2.24)

        Onde:

 VLmed  =VRmed»0.225V0(1-cosb) (2.25)

 

        Desta forma, a corrente média na carga (ou no diodo) é obtida pela expressão (2.26).

(2.26)

        A corrente média na carga pode também ser obtida através da expressão (2.27).

(2.27)

        De modo análogo, pode-se estabelecer o valor eficaz da corrente de carga, conforme expressão (2.28).

(2.28)

        Normalizando-se as correntes média e eficaz na carga, onde:

(2.29)

(2.30)

  Onde: Imd = Corrente média normalizada na carga, e
             Ief = Corrente eficaz normalizada na carga.

             Sendo:

(2.31)

        Assim:

(2.32)

(2.33)



       Desse modo, Imd e Ief  podem ser obtidas numéricamente em função de f. Tais funções estão representadas na figura 2.8.


Fig. 2.8 - Valores médio e eficaz normalizado da corrente de carga para a figura 2.3.


c) Carga R-L com Diodo de "Roda-Livre"

           Para evitar que a tensão na carga se torne instantaneamente negativa devido à presença da indutância (ângulo de condução maior do que p ), emprega-se o diodo de "roda-livre". A estrutura do retificador é então representada pela figura 2.9.


Fig. 2.9 - Retificador Monofásico de Meia Onda com Diodo de "Roda-Livre"

      O circuito apresentado na figura 2.9 possui duas etapas de funcionamento, representadas na figura 2.10.


Fig. 2.10 - Etapas de funcionamento para o retificador com diodo de "roda-livre".



      A primeira etapa ocorre durante o semiciclo positivo da tensão v(wt) de alimentação. O diodo D1 conduz a corrente de carga e o diodo DRL, polarizado reversamente, encontra-se bloqueado.
        A segunda etapa ocorre durante o semiciclo negativo da tensão v(wt). A corrente de carga, por ação da indutância, circula no diodo de "roda-livre" DRL , polarizado diretamente nesta etapa. Em conseqüência, o diodo D1, polarizado reversamente, se bloqueia.
        As formas de onda relativas ao retificador monofásico de meia onda com diodo de "roda-livre" estão representadas na figura 2.11.
 



Fig. 2.11 - Formas de onda para a estrutura da figura 2.9.



      Se a corrente de carga se anula em cada ciclo de funcionamento da estrutura, a condução é dita descontínua. Caso contrário, ela é dita contínua. O fato da condução tornar-se contínua ou não, é conseqüência da constante de tempo da carga. Para constantes de tempo elevadas (L muito grande) a condução poderá ser contínua. A condução contínua pode apresentar maior interesse prático, pois implica numa redução das harmônicas da corrente de carga.
         Para se realizar a análise matemática da corrente de carga, supõe-se a estrutura funcionando em regime permanente e condução contínua. Tal situação está representada na figura 2.12.
 
 


Fig. 2.12 - Tensão e corrente de carga para condução contínua.

        Uma maneira simples de se obter a corrente de carga, consiste no emprego da Série de Fourier.
        Decompondo-se vL(wt), em uma série de Fourier obtém-se:

(2.34)

        Assim, a tensão e a corrente média de carga serão:

(2.35)
(2.36)

        A expressão para a corrente de carga pode então ser escrita conforme (2.37).

i(wt)=ILmed+i1(wt)+i2(wt)+i4(wt)+i6(wt)+...+in(wt)+...  (2.37)

       Onde:

(2.38)

(2.39)
(2.40)
(2.41)

Onde:      ¹ 1
(2.42)
(2.43)

        O valor eficaz da corrente de carga é dado pela expressão (2.44).
 


ILef= ( ILmed 2   +   IL1+  IL22   +   IL42   +  IL62   +  ...   + ILn2 + ....)1/2    (2.44)

        Onde:

(2.45)

(2.46)

(2.47)

,  n  ¹ 1   (2.48)

Obs:  Os valores médios das correntes nos diodos podem ser considerados como iguais à metade do valor calculado para a carga, quando a constante de tempo for elevada (condução contínua).

d) Uso do Transformador

        Em muitas aplicações, o retificador é alimentado a partir de um transformador, que apresenta as seguintes propriedades:

        A estrutura do retificador monofásico de meia onda com diodo de "roda-livre", alimentado através de um transformador está representada na figura 2.13.


Fig. 2.13 - Retificador monofásico de meia onda alimentado por transformador.

        Para simplificar a análise do funcionamento da estrutura, a corrente de carga iL(wt) será considerada isenta de harmônicas, hipótese que só é rigorosamente verdadeira quando a indutância de carga for infinita. O transformador será considerado de ganho unitário, sem perda de generalidade. Desta forma, apresentam-se as principais formas de onda para análise na figura 2.14.


Fig. 2.14 - Formas da onda para a estrutura da figura 2.13.






        Decompondo-se a  corrente secundária i2(w t) em Série de Fourier obtém-se:

(2.49)

Sendo que:
(2.50)
Logo:
(2.51)
Assim,
(2.52)

        A componente secundária contínua I2CC não apresenta reflexos no primário do transformador. Desse modo, a corrente primária será igual à corrente secundária alternada  i2CA, visto que :

N1 . i1(wt)=N2 . i2CA(wt)

Uma vez que se admitiu uma relação de transformação unitária, ou seja : N1 = N2 .
        A componente contínua secundária tende a saturar o transformador. Portanto, esta estrutura é reservada somente para aplicações em pequenas potências.
        Para uma potência de carga definida (PL), é importante que se possa determinar a potência nominal aparente do transformador de alimentação. Onde:

PL =VLmed .I0 (2.53)

        Sendo que:

VLmed  = 0,45 . V2   (2.54)

        A potência primária aparente do transformador é dada pela expressão (2.55).

S1 =V1 . Ilef(2.55)

        Calculando-se o valor eficaz da corrente do primário, obtém-se:

(2.56)

Assim:
Tendo-se ainda que N1=N2, então:
(2.57)
        Logo:
S1 =1,11.VLmed . I0
   Então,
S1 =1,11.PL(2.58)
             O  valor eficaz da corrente secundária é dado por:

(2.59)

             Portanto, a potência aparente nominal do secundário será dada pela expressão (2.60).

S2 =1,57.PL(2.60)

     De acordo com a expressão (2.60) o transformador é mal aproveitado nesta estrutura, sendo esta mais uma razão para que ela seja utilizada somente para pequenas potências.
     O maior interesse desta estrutura reside na sua simplicidade e no seu baixo custo.